Pela
meia-noite e 50 de domingo passado, 29 de Março, n' O Eixo do Mal, acabara
o patético Pedro Marques Lopes,
que por efeito feromónico da vizinhança prolongada vem menstruando cada
vez mais sincronizado com Clara Ferreira Alves, de confessar que Herberto
Hélder é o poeta da minha vida,
julgando nós que fosse Maradona, dizia Daniel Oliveira:
«Eu
nunca falei do meu pai [Herberto Helder, 23.Nov.1930-23.Mar.2015], e isso não
vai mudar, nunca falei em público do meu pai; não vai mudar. Vou fazer aqui um
curtíssimo, um curtíssimo intervalo. Não sou nem vou ser nem quero ser o guardião
da memória de ninguém. No entanto, faço, não é um pedido, é um apelo: que não
dêem o nome dele a nenhuma rua, a nenhuma praça, que não façam nenhuma estátua,
que não o incluam no protocolo literário, ou seja, que não façam ao meu pai o
que ele nunca quis que lhe fizessem em vida. Não lhe façam agora.»
Faltou-lhe
acrescentar «Esqueçam-no.», mas é de crer que o merchandising glutão e às vezes pouco escrupuloso da Porto Editora não o consinta: antevejo, na 85.ª Feira do Livro de Lisboa que aí vem, uma frenética barraquinha "Herberto
Helder" e a procissão ao sol dos habituais beatos — os da Poesia difícil e,
em maior número, os de gosto requintado na estante da sala — para a caixa
registadora dos "Poemas canhotos" a, porque desta vez é um ano
especial, no máximo de três exemplares por cliente.
Enfim, num respeitoso momento de perda e de dor, soou-me a presunção e a soberba da parte de um órfão que, determinado em não ser guardião da memória, acabou por, sem querer, fazer de polícia e executor testamentário dela.
Talvez Daniel Oliveira tenha perdido a melhor oportunidade de continuar publicamente calado acerca do seu admirável pai.
Enfim, num respeitoso momento de perda e de dor, soou-me a presunção e a soberba da parte de um órfão que, determinado em não ser guardião da memória, acabou por, sem querer, fazer de polícia e executor testamentário dela.
Talvez Daniel Oliveira tenha perdido a melhor oportunidade de continuar publicamente calado acerca do seu admirável pai.