quarta-feira, 1 de abril de 2015

Gosto de Herberto Helder

Pela meia-noite e 50 de domingo passado, 29 de Março, n' O Eixo do Mal, acabara o patético Pedro Marques Lopes, que por efeito feromónico da vizinhança prolongada vem menstruando cada vez mais sincronizado com Clara Ferreira Alves, de confessar que Herberto Hélder é o poeta da minha vida, julgando nós que fosse Maradona, dizia Daniel Oliveira:
«Eu nunca falei do meu pai [Herberto Helder, 23.Nov.1930-23.Mar.2015], e isso não vai mudar, nunca falei em público do meu pai; não vai mudar. Vou fazer aqui um curtíssimo, um curtíssimo intervalo. Não sou nem vou ser nem quero ser o guardião da memória de ninguém. No entanto, faço, não é um pedido, é um apelo: que não dêem o nome dele a nenhuma rua, a nenhuma praça, que não façam nenhuma estátua, que não o incluam no protocolo literário, ou seja, que não façam ao meu pai o que ele nunca quis que lhe fizessem em vida. Não lhe façam agora.»
Faltou-lhe acrescentar «Esqueçam-no.», mas é de crer que o merchandising glutão e às vezes pouco escrupuloso da Porto Editora não o consinta: antevejo, na 85.ª Feira do Livro de Lisboa que aí vem, uma frenética barraquinha "Herberto Helder" e a procissão ao sol dos habituais beatos — os da Poesia difícil e, em maior número, os de gosto requintado na estante da sala — para a caixa registadora dos "Poemas canhotos" a, porque desta vez é um ano especial, no máximo de três exemplares por cliente.
Enfim, num respeitoso momento de perda e de dor, soou-me a presunção e a soberba da parte de um órfão que, determinado em não ser guardião da memória, acabou por, sem querer, fazer de polícia e executor testamentário dela.
Talvez
Daniel Oliveira tenha perdido a melhor oportunidade de continuar publicamente calado acerca do seu admirável pai.