sábado, 3 de outubro de 2015

Reflectindo …

... até que a fome torne as coisas mais nítidas.

Como poderia votar num partido cujo cabeça de lista pelo Porto, um velho paneleiro, cientista emérito, mandou logo dizer — DN, 09.Ago.2015 — que em primeiro lugar está o marido e, mal a vida no parlamento interfira na vida do casamento, a inovação e o conhecimento do Costa que se fodam? — Eu e o Richard decidimos: se a política começar a afectar a nossa relação, paro logo.
Como poderia votar num partido cujo jovem cabeça de lista por Viana do Castelo abandona pela política caseirinha a única ocupação em que continuaria a ter algum préstimo para a humanidade?
Como poderia votar num partido apontado a um futuro diferente que apresenta o medonho Ferro Rodrigues em segundo lugar por Lisboa seguido da alucinada Helena Roseta, numa lista, de resto, exemplar do mais bafiento déjà vu?

É certo que até o pai de um veterano ministro do PSD vem apoiar o disléxico Costa [coCosta? Deus me perdoe.] que, claro, não deixa de se ufanar disso mas que, mais claro ainda, não poderá louvar-se no manifesto apreço do filho de Jaime Gama, seu totémico e respeitadíssimo camarada de partido, pela presente governação pinícula, e que veio ontem — "Aqueles gajos", João Taborda da Gama | DN, 02.Out.2015 — justificar assim o voto na coligação "Portugal à Frente":
«À minha volta é só gente de esquerda, não tanta como a minha mãe gostaria, é certo, mas claramente a maioria da família, colegas e amigos. E vivo muito bem com isso, boas companhias, mesmo nas campanhas.
[…]
Como é que consigo apoiar aqueles gajos? Assim de repente:
.  foram os gajos que fizeram a lei dos compromissos
.  reduziram os tempos de pagamento do Estado e dos municípios às empresas
.  criaram um mecanismo para evitar a falência de municípios
.  criaram as condições para que os municípios reduzissem a sua dívida
.  não se meteram no BES, não que eu concorde com todas as decisões, mas não se meteram e isso é uma escolha que os distingue de outros gajos
.  reformaram o arrendamento, depois de tantas falsas partidas
.  puseram ordem nas fundações privadas (para o que havia de dar a esses perigosos liberais...)
.  fomentaram o turismo, com campanhas inteligentes, que regularam o alojamento local
.  estimularam um bom empreendedorismo (que devia ser ainda menos dependente do Estado)
.  baixaram o preço do gás natural
.  modernizaram o regime eléctrico português com as regras do autoconsumo e da pequena produção, passos pouco visíveis mas que abrem o caminho à revolução que aí vem da produção distribuída.
Claro que aqueles gajos não fizeram tudo bem, das confusões na justiça ao empurrar com a barriga do problema da dívida do sector empresarial do Estado. Mas já alguns gajos fizeram tudo bem?
Ah, e já me esquecia,
.  foram aqueles gajos que cumpriram o programa da troika
.  não precisaram de segundo resgate nem de programa cautelar.
.  E foram aqueles gajos que, depois de tudo isto, puseram o país a crescer e a confiança das pessoas e das empresas a subir.
Como se diz no futebol, metade do trabalho está feito. Na segunda parte vai ser preciso fazer o dinheiro chegar ao bolso das famílias. A segunda parte vai ser menos dura, mas muito difícil. Que gajos queremos ver em campo, aqueles ou outros?»

Visto o que e depois de acurada reflexão até que o jantar se me soprepôs [21:00 de sábado, 03.Out.2015], votarei amanhã nulo. Nítido.