«Mesmo
que consideremos que o conceito de democracia está contaminado por um
mal-entendido fundamental e deu lugar a uma conversa inócua que esvazia a
política de conteúdo, dizer “que se lixem as eleições, o que interessa é
Portugal”, como fez esta semana o primeiro-ministro, é um lapso terrível,
porque a verdade que nele surge, como um sintoma, é da ordem do irreparável.
Tão irreparável como a virgindade perdida, que nem Deus consegue tornar
reversível, porque entre os seus poderes, segundo uma discussão teológica vinda
da Idade Média, não está o de fazer com que aquilo que aconteceu deixe de ter
acontecido.
[…]
O
“que se lixem as eleições" é uma resposta demófoba de quem tem dos cidadãos a
ideia de que eles não atingiram o estado de maioridade e são incapazes de agir e
pensar por si mesmos.
[…]»