quarta-feira, 28 de junho de 2017

Quiosque do Ó

«Entre os que dizem que pouco ou nada falhou e os que dizem que falhou quase tudo há 64 mortos contabilizados.»
Ó Paulo Baldaia, director do DN, pelo amor de Deus, não bondou contá-los?
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«É estranhíssimo que esta fruta esteja em toda a parte excepto nos restaurantes que só retêm as cerejas e os morangos em tristes tacinhas com as mesmas sovinas miligramas.»
Ó doutor escritor Miguel Esteves Cardoso, pelo amor de Deus, miligramas é masculino! Masculino Como os gramas, os decigramas, os centigramas; masculino como o pitão, o tesão, o epítome, o matiz, o abracadabra, o gâmeta e o cerúmen.
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«A evolução da comédia americana tem sido dominada por aquilo que eu chamaria o síndrome American Pie, ou seja, confunde-se não apenas o humor mas também a ousadia com a acumulação de piadas mais ou menos obscenas carregadas de referências sexuais.»
Ó magnífico João Lopes, pelo amor de Deus, síndrome é feminino! Feminino como a entorse, a aluvião, a ênfase, a dinamite, a cataplasma, a enzima e a dracma.
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«despedimento colectivo de 40 pessoas [...] o número de colaboradores dispensados [...] foram 40 os funcionários incluídos no processo»
Ó inefável Ana Marcela, pelo amor de Deus, deixe-se de nojo à palavra trabalhador! Quem impede de usá-la? Que mestres lhe formataram a cabecinha na Universidade Nova de Lisboa
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«Não tem razão ao promover o diálogo inter-religioso de todas as religiões, mais concretamente com o islão moderado? [...] Mas Francisco não tem igualmente razão quando denuncia como blasfema a violência em nome de Deus? [...] Francisco é hoje um líder político-moral global, dos mais amados, senão o mais amado, dos mais influentes, senão o mais influente.» 
Ó senhor padre Anselmo Borges, filósofo e professor, pelo amor de Deus, não abuse da nossa paciência e da crendice dos seus seguidores! O senhor padre sabe muito bem que «islão moderado» é uma falácia; o senhor padre tem obrigação de conhecer melhor do que ninguém a violência que jorra das três religiões do livro, a instigação à porrada e à aniquilação de pessoas e o crudelíssimo Deus, esse seu Deus de amor infinito, que repassa os textos sagrados. E poupe-nos, por favor, ao sentido figurado da diegese.
O que o senhor padre filósofo professor — que muito estimo e acompanho há uns 30 anos com atenção — aparenta não dominar tão bem é o uso de "senão"/"se não". De tal modo que se espalha naqueles dois [«dos mais amados, se não o mais amado, dos mais influentes, se não o mais influente.»].

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* «Enquanto houver amor parecerá sempre a primeira vez. É a primeira vez. Comecei a amar-te agora. E agora estou a recomeçar.»
Mais um bonito bilhete para Maria João Pinheiro, sua mulher