«Temos aqui dois resultados históricos que há a assinalar, a fechar com chave de ouro a presidência alemã a quem quero aqui agradecer, e em particular à chanceler Merkel.
Foi uma coincidência feliz todos termos podido contar com a sua experiência, o seu talento, a sua capacidade política, a sua autoridade no momento mais difícil que a Europa enfrenta desde o final da segunda guerra mundial.»
António Costa, primeiro-ministro | Bruxelas, 12.Dez.2020
Tem-me comovido o desvelo com que nos tempos recentes os próceres progressistas do eixo Lux Frágil-Campo de Ourique, passando pelo Pap'Açorda, pela redacção do Público, pelo twitter de Fernanda Câncio e pela generalidade dos areópagos socialistas, vêm reabilitando a figura da mulher que dirige há 15 anos a governação da Alemanha.
Os mesmos que antes a vilipendiavam devotadamente como demónio da civilização ocidental, hoje em dia, sem a mais leve brotoeja de vergonha, incensam Angela Merkel como anjo redentor da decência política.
Perante o encómio e o agradecimento de António Costa acodem-me à lembrança o desdém e a exprobração que com mal disfarçado machismo* Mário Soares — mais ícone do referido eixo lisboeta de militância do que propriamente freguês dele — bolçava, semana sim, semana sim, mormente no Diário de Notícias, sobre a chanceler democrata-cristã nos últimos anos de emissão pública do seu pensamento, numa altura [2012-2015] em que se vinha rendendo à clarividência paraleninista do Papa Francisco enquanto, nas sete sortidas à prisão de Évora** de 26.Nov.2014 a 10.Jul.2015, praticava com diligência vistosa a 6.ª corporal e a 4.ª espiritual das 14 "obras de misericórdia".
Se o que António Costa disse ontem em Bruxelas acerca de Merkel ressoou na actual assoalhada de Soares nos Prazeres, só posso ouvir ossos a estralejar...
Por falar nestas coisas,
Dona Emília, dona Emília, não tarda o sol põe-se e não me diga que ainda não cumpriu o seu dever diário de hoje?!...
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* Aprecie-se, por exemplo, a elegância com que Soares considerou Nicole Fontaine, em 1999.