sexta-feira, 14 de março de 2014

Facebook e outros palratórios

«O principal tropismo das redes sociais (como o Facebook), dos blogues e do jornalismo instantâneo on-line são as manifestações de superfície. Eles afogam-nos na prosa do mundo e na banalidade, criam ondas e centros de atracção, recriam uma lógica tribal e fornecem o ornamento da massa.
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o uso que fazemos das tecnologias da informação e da Internet permitiu-nos criar a ilusão de que vivemos num mundo completamente fanérico e onde foi potencializado o exercício da crítica. Ora, a deambulação desenfreada pelas manifestações de superfície (o vício maior a que estamos expostos) impede-nos de parar e sondar os mecanismos secretos da sociedade. Daí, este paradoxo que decorre das facilidades da indignação, sempre muito mais rápida do que a análise: aquilo que é hoje objecto de uma onda de indignação ou de sátira colectiva vê legitimado o seu lugar, teve direito a um atestado de existência. É exactamente o mesmo que acontece aos cronistas que concitam o insulto e um vasto consenso de que têm uma jubilosa inclinação para a imbecilidade: isso garante-lhes o posto, porque passam a ser olhados com aquele fascínio universal que a estupidez suscita. Reconstruir o sentido da nossa época tornou-se mais difícil do que nunca. Não por falta de atenção às suas manifestações de superfície, mas porque tudo se tornou “pessoal”, isto é, diz sempre respeito a pessoas, a entidades civis com nomes próprios. É a lógica do Facebook.
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