«O principal tropismo das redes sociais (como o Facebook), dos
blogues e do jornalismo instantâneo on-line são as
manifestações de superfície. Eles afogam-nos na prosa do mundo e na banalidade,
criam ondas e centros de atracção, recriam uma lógica tribal e fornecem o
ornamento da massa.
[…]
o
uso que fazemos das tecnologias da informação e da Internet permitiu-nos criar
a ilusão de que vivemos num mundo completamente fanérico e onde foi
potencializado o exercício da crítica. Ora, a deambulação desenfreada pelas
manifestações de superfície (o vício maior a que estamos expostos) impede-nos
de parar e sondar os mecanismos secretos da sociedade. Daí, este paradoxo que
decorre das facilidades da indignação, sempre muito mais rápida do que a
análise: aquilo que é hoje objecto de uma onda de indignação ou de sátira
colectiva vê legitimado o seu lugar, teve direito a um atestado de existência.
É exactamente o mesmo que acontece aos cronistas que concitam o insulto e um
vasto consenso de que têm uma jubilosa inclinação para a imbecilidade: isso
garante-lhes o posto, porque passam a ser olhados com aquele fascínio universal
que a estupidez suscita. Reconstruir o sentido da nossa época tornou-se mais
difícil do que nunca. Não por falta de atenção às suas manifestações de
superfície, mas porque tudo se tornou “pessoal”, isto é, diz sempre respeito a
pessoas, a entidades civis com nomes próprios. É a lógica do Facebook.
[…]»