sexta-feira, 28 de março de 2014

Biopolítica, biopoder

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O que significa dizer que daqui a 200 anos já não haverá portugueses? Que o território nacional está despovoado (hipótese absurda, apenas verificável se as fronteiras fossem fechadas por uma polícia fanática e suicida) ou que o “sangue” que por aqui corre pertencerá a outras “linhagens”, que queremos excluir da pertença a uma cidadania portuguesa? Mas, afinal, a linhagem actual tem algo de “próprio” que está ameaçado de degeneração?
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Ainda na semana passada ficámos a saber que a um casal português, em Inglaterra, foram retirados os seus cinco filhos por “risco futuro de dano emocional”. É certo que não conhecemos a situação para avaliar convenientemente. Mas o argumento baseado no “risco futuro” para separar coercivamente cinco crianças e instalá-las em internatos e famílias de acolhimento mostra até que ponto o Estado já não se limita a intervir sobre o “como” da vida, sobre a maneira de viver, mas vai mais longe: apodera-se de toda a vida. Não é que os filhos não devam ser protegidos das sevícias que os pais sobre eles eventualmente exerçam. Mas, uma vez caídos nas garras do Estado, eles ficam submetidos, sem protecção, à pior das sevícias. Os esquemas biopolíticos de intervenção sobre a vida e a realidade populacional não estão, porém, desligados de um fenómeno de abstractização generalizada que tanto se aplica à monetarização e financeirização da economia como ao nascimento de crianças.
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As regressões dos nascimentos são como as regressões da poesia: dão-se quando se extingue um território de crenças e de sentimentos. É a este território que devemos atribuir a razão pela qual, nas sociedades ocidentais, a natalidade entrou em regressão, e não a critérios exclusivamente materiais.»