Sem
fé que me valha, fui ver [não confundo com "participar"] a missa das seis.
Pelos
25 minutos da celebração, todos os presentes menos eu desataram a recitar, de
cor e em coro, sem qualquer hesitação prosódica ou sintáctica, isto:
«Creio em um só Deus*, […]
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido
do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro
de Deus verdadeiro;
gerado,
não criado, consubstancial
ao Pai.
[…]
Creio
no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede
do Pai e do Filho;
[…]
espero a ressurreição dos mortos e a
vida do mundo que há-de vir. Amen!»
À saída, pedi separadamente a quatro senhoras ao calhas,
na casa dos 60-70, todas dando mostra de andarem a rezar aquilo de cor, pelo
menos uma vez por semana há mais de 50 anos, se me explicavam o que significa
cada uma das palavras e expressões avivadas
a negrito.
Ainda contribuí no «procede» — quem sabe significasse o mesmo que aquilo
que se ouve na CP: o comboio procedente da Azambuja… — mas nenhuma me ajudou
por aí além; todas admitiram, com bonomia e simplicidade desvanecedoras, que foi como aprenderam,
que na igreja há palavras difíceis de entender e que o importante é a Fé.
Perguntei-lhes ainda se sabiam o que é o PIB.
Têm ouvido falar disso na televisão, mas nenhuma
fazia ideia. Eu também não.
________________________________
* Eu acredito neles todos; feitos todos à imagem e semelhança do homem. Enfim, alguns têm barbas brancas muito compridas e nem todos usam báculo.