O Bloco e o PCP são furúnculos da velha extrema-esquerda europeia do século passado que teimam em fazer de Portugal o seu museu vivo. São indicadores do nosso atraso periférico, nos seus aspectos económico, civilizacional e mental. Perante a queda estrondosa do comunismo, fingiram e fingem que não é nada com eles, tal como Salazar e Franco fingiram, após o fim da segunda guerra mundial, que não era nada com eles. “Cadáveres adiados que procriam” – chamou-lhes antecipadamente o profeta Fernando Pessoa.
Ideologicamente putrefactos e cegos pelo ódio sectário, Bloco e PCP prestam-se miseravelmente a servir os desígnios da direita portuguesa, que agora recolocaram deliberadamente no poder. Preferem ver a direita a realizar o exacto contrário dos seus programas políticos (privatizações, legislação laboral, segurança social, saúde) a ter no governo um socialista moderado, isto é, um “traidor” dos seus dogmas arcaicos e estéreis. O desespero que a sua impotência ideológica e política intimamente lhes provoca leva-os, de facto, a agirem como incendiários. O Estado social a arder dá-lhes a perversa satisfação de poderem ter novamente algo por que lutar. Quando as últimas “conquistas de Abril” desaparecerem sob as chamas, terão novamente a sensação enganadora de que estão vivos. Desadaptados da realidade, incapazes de compreenderem a sociedade e de acompanharem o progresso, precisam da acção purificadora do fogo laranja para restabelecer uma imagem fantasmagórica do passado em que se julgavam úteis e actuantes.»