quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Na caracterização das «Dez desgraças»

que arrolou na Sábado de hoje, o José Pacheco Pereira diz uma coisa que me apetece enfatizar, ainda que sem nenhuma da velada ironia com que ele a diz.
Mas não diz uma outra porque acho que lhe custaria dizê-la, com ou sem ironia.  

A coisa que o JPP diz:
«Podíamos encerrar as embaixadas, fechar o ministério e acabar com as forças armadas.»
E porque não se haveria de acabar com elas já? Para que serve, afinal, a tropa? Mal irá Portugal se ou quando precisar dela. Enfim, serviu numas breves horas em 25 de Abril de 1974 - e julgo que está mais do que bem paga por isso -, mas não lhe sei de mais nada que justifique a mastodôntica despesa com ela.
Para socorrer uns náufragos e ajudar nos fogos é preciso tanto e tão caro estardalhaço?
A necessidade de exército, subsumindo nele a tropa do ar e da água, é porventura o sinal maior de quão atrasado e miserável continua o homo sapiens.   

A coisa que o JPP não diz.
«a corrupção da alta esfera dos anos 90 do século XX continua com praticantes dedicados. Eu costumava dizer que mais cedo ou mais tarde a coisa dava para o torto, tanta era a ganância. E para algumas personagens principais deu mesmo para o torto. Mas nem para todos, nem para muitos dos seus dedicados colaboradores e encobridores, que esses andam por aí como homens de muito sucesso empresarial.» - JPP
E que não diz o Pacheco Pereira e se calhar deveria ter dito, sei lá, talvez assim?:
tanta era a ganância. E para algumas personagens principais deu mesmo para o torto. Mas nem para todos, nem para muitos dos seus dedicados colaboradores e encobridores ou para, por exemplo, a levedura “Cavaco Silva” com que boa parte deles medrou, que esses andam por aí como homens de muito sucesso e virtude.

Tenho dito.

PS
El pesetero…
Claro que não poderia estar mais de acordo com a seguinte passagem do Editorial da Sábado de hoje:
«Durante anos, Luís Figo aceitou ser a cara do banco [BPN], aparecendo em várias publicidades a recomendar aos portugueses que confiassem na instituição fundada por Oliveira e Costa. Para um banco que era frequentemente alvo de rumores sobre a forma como actuava, este empréstimo de credibilidade podia ser a diferença entre alguém colocar as suas poupanças ali ou noutro sítio qualquer. Como Luís Figo não tinha poderes de supervisão ou de adivinhação, não se exigia que recusasse as propostas do BPN. Mas já se podia exigir que, depois de as autoridades perceberem que se tratava de um banco fora-de-lei, o antigo jogador ensaiasse pelo menos um pedido de desculpa por ter involuntariamente ligado a sua imagem a uma instituição pouco recomendável.»