Se, com esta proclamação de lesa-gosto da pátria culta incorro nalguma coima, que se foda; como diz o outro, estou-me marimbando, não pago.
A criação musical - musicalmente falando, diria a "Deolinda" Ana Bacalhau - do Rodrigo Leão é de previsibilidade monótona e comatosa; vive de redundâncias de pacotilha; exprime-se em penosos exercícios de solfejo e escalas, com os mesmos, pouco variados e medíocres truques harmónicos e rítmicos de sempre, de efeito etílico em ouvidos fáceis ou em sensibilidades semitonadas.
Mas o que não falta ao rodrigoleonismo, que nem minimal-repetitivismo alcança ser, tomara ele, é aparato e boa imprensa. E, sim, produção excelente.
Por exemplo, o João Gobern, sujeito simpático, muito sabido e de gosto geralmente recomendável, não será propriamente o melhor paradigma de êxtase acrítico. Bem pelo contrário, tenho-o por ponderado e exigente. Mas com o Rodrigo Leão o sentido crítico parece deslassar-se-lhe. Ainda anteontem, na 2.ª hora do Hotel Babilónia, chegou a afligir a bajulação prostrada, quase religiosa, do Gobern e do Pedro Rolo Duarte, ao convidado RL. E no Correio da Manhã do mesmo sábado escrevia JG acerca do Leão: … um melodista intuitivo e feliz … 'A Montanha Mágica' é outro capítulo sublime …
Melodista, o Rodrigo Leão? Sublime? O João Gobern não faz a coisa por menos?
Se o músico Leão é isso, que qualificações usar para, por exemplo, Tom Jobim?
Se a música que o RL cria é sublime - tenhamos tento -, então o Rão Kyao é o Bach dos pífaros.
A influência da tribo continua impressionante…
Cá para mim, que arranho uns acordes, valem mais em melodismo e em sublimidade quaisquer quatro compassos seguidos do José Mário Branco, por exemplo, do que todas as partituras do Rodrigo Leão.
Já a densidade discursiva e filosófica do homem – que, para piorar as coisas, dá todo o ar de se levar a sério - faz do Tony Carreira um exegeta.