«Não querer fazer nada talvez seja a inclinação natural do ser humano, mas como qualquer preguiçoso militante poderia explicar (caso se quisesse dar a esse trabalho) a indolência é uma actividade que exige esforço e dedicação.
Ainda antes de chegarmos ao ponto em que somos obrigados a trabalhar no sentido de deflectir todas as pressões para cedermos às pressões para trabalhar – o que requer doses extraordinárias de engenho, perseverança e até destreza semântica – temos de criar as condições necessárias para que haja alguma actividade passível de ser evitada. Como Jerome K. Jerome explicou, “não há prazer nenhum em não fazer nada, caso não haja nada para fazer”. Os meramente apáticos podem dar-se ao luxo de se deixar arrastar passivamente para o grau zero da letargia; os indolentes, contudo, precisam de ameaças específicas às quais possam reagir (não reagindo), mesmo que tenham de ser eles próprios a criá-las. Em casos extremos, torna-se imperioso arranjar um emprego para poder não trabalhar.»