domingo, 4 de dezembro de 2011

Televisão de sarjeta, jornalismo de pocilga

«Porque é que o facto de algumas dezenas de espectadores destruírem outras tantas cadeiras num estádio de futebol é, nas notícias televisivas, um assunto prioritário?
[...]
É preciso falar de violência. Sem dúvida. Mas não através dessa lógica gratuita que mostra uma bancada chamuscada de um estádio para nos deixar, indefesos, com a noção determinista de que já passámos para além do apocalipse social.»

«No que importa, a história dos pescadores resgatados de uma morte anunciada teve um final feliz. No que não importa, ou não devia importar, o final tendeu para o melancólico. Foi triste ver o reencontro daqueles homens com as famílias e os amigos entregue à voracidade das televisões, que sem um pingo de respeito usurparam a privacidade de indivíduos exaustos e indefesos. A chegada destes a Vila do Conde transformou-se num espectáculo organizado para consumo alheio, ao qual nem faltou o típico autarca a debitar banalidades oportunistas acerca "desta gente". "Esta gente" era, de resto, a designação obrigatória usada pelos repórteres, que pareciam referir-se a uma espécie à parte, ali exposta à curiosidade das pessoas restantes e "normais". Involuntariamente, estavam correctos.»
Alberto Gonçalves, “O salvamento que acabou mal| DN, 04.Dez.2011