quarta-feira, 13 de maio de 2020

António Costa, Marcelo e «colaboradores»

Os deuses sabem do meu apreço por Marcelo Rebelo de Sousa e por António Costa.
É por isso que a fala e a novilíngua do Primeiro-Ministro, promotor e principal interessado na recandidatura do presidente-arlequim, esta manhã em Palmela, só poderiam deixar-me em êxtase: 

«Há bocado foi-nos lançado o desafio. Da próxima vez que viermos cá devíamos partilhar com o conjunto dos colaboradores da Autoeuropa uma refeição no refeitório. [...] E portanto faço-me desde já convidado para acompanhar o senhor Presidente e o senhor presidente da Autoeuropa e todos os seus colaboradores para aqui virmos prò ano partilhar então essa refeição.»
António Costa, 13.Mai.2020

Senhora de Fátima, 3.ª Lei de Newton e diastema

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terça-feira, 12 de maio de 2020

Mal segundo Maria Filomena Mónica e pornografia num país cristino*

No Correio da Manhã de domingo passado, Maria Filomena Mónica surpreendeu-me e fez-me rir. Numa correnteza de grandes males, perdão, Males [agiotagem no preço dos artigos de protecção, assaltos aos velhos, egoísmo no desprezo pelas regras de confinamento social, teorias da conspiração...], e sem mudança de plano, inseriu o mal de ver filmes pornográficos na televisão durante a quarentena:
«[...]
Estou a pensar na médica Inês que não pode ir dormir a casa porque tem de cuidar de doentes atacados pela covid-19, da aluna Constança que, com umas amigas, se ofereceu para ir para um lar em Trás-os-Montes, na jovem Joana que transporta comida, como voluntária, a quem não se pode deslocar. Todavia, estes factos não nos devem fazer esquecer que, ao lado do Bem, existe o Mal.
Há quem especule com o preço das máscaras, do álcool e das luvas. Há quem assalte as casas dos velhos. Há quem aproveite a quarentena para ver filmes pornográficos na TV. Há quem, por egoísmo, despreze as regras sobre o confinamento social. Como se isto não bastasse, as teorias da conspiração multiplicaram-se.
[...]»

Não venho, ai de mim, resgatar e promover a grande bem, perdão, grande Bem social as fitas pornográficas no sentido em que MFM parece considerá-las. Não vou tão longe, mas terei sempre por socialmente mais tóxica do que a pornografia "convencional" a exibição [três exemplos ao acaso]
ou da garagem de Cristina Ferreira, para não falar da vassalagem obscena que Portugal, de Marcelo a Costa, lhe presta - «isto é um negócio.»,
tudo à vista das crianças e sem bolinha vermelha no canto superior direito.

No mais, respeito a pudicícia de Maria Filomena Mónica. Mas lá que me fez rir, fez.
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ÚLTIMA  HORA
Terça-feira, 12.Mai.2020, 23h15 - 5.ª descontaminação das ruas de Bobadela, pela Senhora.**


segunda-feira, 11 de maio de 2020

A respeito do respeito de Daniel Oliveira pela Igreja Católica

Daniel Oliveira aos berros:
«[...] A Igreja não teve nenhum papel na construção da democracia portuguesa e teve um fortíssimo papel em 48 anos de ditadura! Não, não teve nenhum papel! A Igreja foi totalmente ausente na construção da democracia portuguesa! Zero! Não teve nenhum papel!
Eu respeito a Igreja Católica*, já várias vezes aqui o deixei claro, não respeito a reescrita da História. [...]»

Sou a última pessoa da galáxia a quem algum ministro da Igreja Católica viria encomendar desagravo das declarações deste façanhudo e autoritário preopinante avençado por Nuno Artur Silva**,  por Francisco Pinto Balsemão e por Daniel Proença de Carvalho. Ainda assim e, não vá acusarem-me de batota dialéctica, admitindo que o jornalista quisesse referir-se ao papel institucional da Igreja, não a individualizados membros dela, não resisto a contrapor estes apontamentos de Nuno Teotónio Pereira e de Joana Lopes que encontrei "Entre as brumas da memória", blogue onde, de resto, o filocomunista Daniel Oliveira, que diz pérda no lugar de pêrda, é estimado.
Para que conste.
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* Ahahahah.

Está bem, abelhinhas...

domingo, 10 de maio de 2020

Precedência da sucessão [2]

ÚLTIMA  HORA
O novo CEO do BPI «promete manter o legado deixado pelos seus sucessores

Ufa!, estava a ver que não. Podemos ficar tranquilos.

De uma assentada, vem-me à lembrança o doutor Daniel Cotrim, anjo da guarda dos desvalidos maltratados, e reaviva-se-me a proclamação de que
que, para uso e persuasão dos simples, é brandida como antigo provérbio índio mas não passa de variação de um escrito de Wendell Berry [1971].

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Tempo de Quaresma

O insigne jornalista Ferreira Fernandes, prosador exímio, não resistiu a molhar o bico ditirâmbico no processo de canonização sumária em curso
«[...]
Os cruzamentos de trivela de Quaresma são dos maiores momentos do futebol mundial. Um misto de ciência, pela curva traçada, um sentido dramático pelo espanto de colegas, adversários e público, e uma beleza pegada. Como o outro, Garrincha, também magnífico e demasiado povo, Quaresma teve como destino ser a alegria do povo. [...]
Olhem um cidadão, pelo texto que escreveu* [...]
Ricardo Quaresma é soberbo, costas direitas, cabeça erguida, gola levantada [...]
Ricardo Quaresma voltou ao twitter e publicou: Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros... Que frase política, de quem podia aproveitar-se para soprar no fogo, e não o fez. Sem ter andado em seminário, nem universidade inglesa**, que respeito pela comunidade, a estreita e a Pátria. Que sentido de Estado!
Que sabedoria de quem, sabendo que há problemas, quer resolver e não inquinar. Quanto mais fácil seria, para uma vedeta que tem a sua vida e a dos seus materialmente resolvida, poder juntar a isso a vã glória de cavalgar uma qualquer rebeldia. Os meus, disse Quaresma aos seus e a nós, somos nós todos. Que lição do que é ser português! [...]
Sabia-te artista mas misturado com um bruto. Mas o que tu és é isso tudo e também um homem comovedor. Chapeau. Respect. Dá cá um abraço.
E ontem, ainda no Facebook, publicas a recordação do teu tio-avô, também futebolista, Artur Quaresma, do Belenenses. Num Portugal-Espanha, 1938, ele e dois colegas da selecção e do clube (José Simões e Mariano Amaro), não fizeram a saudação fascista.***  Portugal-Espanha, resultado: um hat-trick, ganhámos nós todos a memória de uma coragem. Não era um gesto sem risco: depois daquilo, Cândido dos Reis, treinador dos três no clube e na selecção, foi parar ao campo de concentração do Tarrafal.
Ricardo Quaresma à escrita*: Ontem como hoje, a família Quaresma sempre soube estar do lado certo da história.
[...]»

* Ferreira Fernandes, entusiasmado e crédulo, acha que é Ricardo Quaresma quem escreve. Não creio. Ao sábio Quaresma jamais escapariam as três vírgulas imprescindíveis nas três jaculatórias com que encerra o manifesto "Todos diferentes, todos iguais":
«[...]
Olhos abertos amigos, o populismo diz sempre que é simples marcar golo mas na verdade marcar um golo exige muita táctica e técnica.
Olhos abertos amigos, o racismo apenas serve para criar guerras entre os homens em que apenas quem as provoca é que ganha algo com isso.
Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros... isto se queremos chegar ao céu.»

Olhos abertos, amigos, se faz o obséquio! Olhos abertos amigos eram os da minha avó Nazaré. 

** Alusão, críptica para a generalidade dos leitores do DN, a André Ventura ter frequentado um seminário e a ter-se doutorado na Universidade de Cork, depois de a Universidade Nova o licenciar em Direito com média final de 19 valores, o que pode não dizer grande coisa; pois se, por exemplo, da selecta Católica e em Direito também saiu licenciado o vira-casacas, videirinho e «tartufo» Pedro Marques Lopes, como alguém um destes dias o tratava no Aspirina Bpardieiro do Valupi — é Valupi, não Plúvio, quem assim classifica o blogue de que é senhorio —, fã de ambos, PML e FF, por sinal grande compincha de Ferreira Fernandesmeu querido Pedro»]...
Ó Ferreira Fernandes, tenha paciência mas fica-lhe péssimo baralhar a Inglaterra monárquica com a República da Irlanda.

*** Muito mais desastrado, porém, andou o jornalista tarimbadíssimo, "maluqinho da bola" que sabe todas as histórias e todos os nomes dela, ao comover-se e deixar-se enrolar em novo manifesto quaresmal — desta vez, despudorada e miseravelmente oportunista — publicado ao fim da manhã de anteontem na "conta oficial" de Ricardo Quaresma no Twitter — «Ontem como hoje, a família Quaresma sempre soube estar do lado certo da história. E nunca se vergou nem teve medo de dizer não ao racismo.» —, tomando Alfredo Quaresma, esse, sim, tio-avô do inefável Ricardo, que jogou nos anos '70 do século XX, por Artur Quaresma, o "anti-fascista", que esteve no activo quatro décadas antes e com quem Ricardo Quaresma não tem nenhum laço familiar.
Volto a supor que alguém anda a escrever em nome de Ricardo Quaresma. Alguma vez a superioridade e o escrúpulo éticos de RQ consentiriam em embarcar no «lado certo da história» à boleia de um tio-avô falsificado? Seja banido da civilização quem tal ouse admitir! Talvez por isso o verdadeiro Quaresma, príncipe caceteiro do bem e da bondade, tenha lesta e diligentemente apagado o tuíte enganoso que inebriou Ferreira Fernandes, fazendo exarar ontem na sua "página oficial" do Facebook um texto de tal elevação literária e tamanho esmero gráfico que auguram para este aríete dos relvados, que aos 36 vai gastando o resto das botas a marcar golos exigentes muito tácticos e técnicos ao serviço de uma agremiação turca de segunda ordem, não direi horizonte de esplendor no areópago das Letras mas, no mínimo, poleiro dourado na academia da Virtude.

De outro e muito brando modo aqui se dá conta do caso.

De resto, quero que André Ventura se foda e desejo que Ferreira Fernandes não precise nunca de disputar com ciganos — RQ é cigano integrado, ciganos são coisa diferente —  a "sua vez" na fila das urgências do Beatriz Ângelo ou do Garcia de Orta, ou na fila de cidadãos socialmente distanciados à entrada de qualquer mercearia de Alfragide. Experimente. E para repor a ordem no Estado de direito democrático convoque o atleta tremebundo
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Daniel Oliveira- Eu acho que ele [Ricardo Quaresma] fez um texto de uma elegância...
Pedro Marques Lopes- ... e bem escrito!
DO- ... e bem escrito. Uma pessoa crente, portanto bastante baseado nisso; o melhor que ser cristão pode ter, o que ali está é o melhor que ser cristão pode ter.
Nada como um apedeuta para convalidar a excelência literária.
E para certificar a ortodoxia da fé, nada como uma criatura que vem desde 02.Jul.1969 caldeando o bestunto ateu nas múltiplas e sucedâneas madrassas do comunismo.
Mas reconheço: o jornalista DO, que leio com assiduidade, escreve benzinho.

domingo, 3 de maio de 2020

O animal afina a guitarra, o universo recompõe-se

Quinta-feira, 30.Abr.2020, Dia Internacional do Jazz, 33 minutos em casa de Yamandu Costa:
  • "Samba pro Rafa"
  • "Suíte colombiana n.º 2-IV [Porro]"
  • "Luciana"
  • "Choro loco"
  • "Sarará"
  • "El negro del blanco"
Se calhar Deus existe.

Gonçalo M. Tavares e outros

Reconheço-me leve e acentuadamente louco, obstinada e moderadamente compulsivo.
Da primeira, 06.Jan.1973, à mais recente, 01.Mai.2020, comprei e li todas as 2479 edições do Expresso. Por maior discordância ou desapontamento que ao longo destes 47 anos o semanário de Francisco Pinto Balsemão frequentemente me suscitou, julgo ter conseguido recolher de cada número proveito equivalente, no mínimo, ao dispêndio. Às vezes por uma única página, um determinado artigo. 
Não fosse por mais, e desta vez, como felizmente quase sempre, é por mais [basta não faltar, por exemplo, o "In memoriam", obituário semanal pela pena prodigiosa de José Cutileiro*], as duas páginas do  "Diário da peste - Dois séculos tem este século**" que Gonçalo M. Tavares vem assinando na E, revista do Expresso, desde 04.Abr.2020, resgatam com rendimento milionário, tornando quase simbólicos, os 4,00 € do jornal. Na edição de anteontem:
«[...]
Dois humanos não podem olhar para o céu ao mesmo tempo. Em alguns momentos, o céu é demasiado pequeno para dois, quanto mais para muitos...
[...]
Alguém leva uma pedra para espancar o mar porque a filha se afogou ali.
[...]
A Europa está mudada.
Em pouco tempo o medo põe o humano a aceitar a pergunta: para onde vai?
Temos todos de novo 5 anos.
A até alguém com mais de 90 anos está na rua como se perdido do pai.
Pode ser mais tarde ou mais cedo.
Mas toda a gente se perde do pai.
Pelo menos uma vez.
[...]»

E daí, Plúvio?
Nada. Compre e leia.
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Também li. Concordo incondicionalmente com Miguel Esteves Cardoso.

** «[...]
O segundo século XXI começou em Wuhan.
O primeiro, nas Torres Gémeas, 2001.
[...]»
Crónica de 25.Abr.2020

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Plúvio em maios e abris de antanho

Lisboa, quarta-feira, primeiro de Maio de 1974.
Confinado em obediência militar, passei a jornada no Marquês de Pombal em marchas e modas para a turbamulta esfuziante. Aqui estou.

Por essa altura tocava flauta e vibrafone na banda dirigida pelo meu saudoso capitão Sílvio Lindo Pleno [1932-2015], cantava e compunha inocuidades.
... 1 de Maio com sol para todo o povo português ...

Tempos antes de 25 do 4, tinha 20 anos e fazia figuras destas.

Sobrevivi; não sei se me envergonhe.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Rubem Fonseca, 11.Mai.1925 - 15.Abr.2020

Viva a língua portuguesa!

terça-feira, 14 de abril de 2020

Chove

Quem consegue evadir-se da sua natureza?
Eu não.
Seis minutos à chuva gárgulas sem açaime  com Jean-Baptiste Dupont.
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De olhos fechados molha melhor.

Melhores

Permita, paciente leitor, que destaque os minutos
00:05, 01:23, 02:27, 03:41, 04:00, 05:12, 06:18, 07:10, 08:08, 09:25, 10:01, 11:24, 12:35, 13:09, 14:15, 15:14, 16:53, 17,31 e 18:02;
e as palavras   Stay,  Alone,  Best,  Wild,  Sun,  Don't,  One,  Bad Games,  Make,  Moon,  Fire,  Heart,  Little  e  Hold

Arrisco: Jacob Collier, o melhor dos últimos 117 anos.
Chegou fora do tempo ao coração, mas quem não lhe perdoa?

//

Melhor reclamo, em termos absolutos, dos últimos 21 anos e melhor de sempre no segmento "duração máxima de 18 segundos":
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sábado, 11 de abril de 2020

Contributo para um glossário quase imperfeito da coisa,

em verso  livre, com palavras difíceis, nomes e números vários.

novo corona
o (vírus) SARS-CoV-2
120 nm de diâmetro (nm=nanómetro=milésima parte do milímetro)
gotícula  aerossol
contágio a 2 metros
4 minutos a 8 dias em superfícies
incubação
surto
Rt
epidemia  pandemia
Tedros Adhanom Ghebreyesus
covidiota   pandemónio   pão de mia    spamdemia
crise sanitária
ai Jesus!

economia
papel higiénico  atum   farinha   fermento
especulação  açambarcamento

coronabonds  takeaway  lay-off
viva a língua portuguesa!
entregas ao domicílio
pelo senhor Virgílio
  telescola  teletrabalho
 e o caralho 

cenários  geometria
os cientistas   os especialistas
pneumologia  infecciologia  epidemiologia  virologia
estatística  casos
curva  pico  achatar  planalto

infecção   reinfecção
anticorpos   imunidade de grupo 70%
certificado de imunidade

mãos  água  sabão
20 segundos
cara  boca  olhos  nariz
que é como quem diz
álcool  gel
 máscara  luvas  viseira  
zaragatoa  teste  reagente

conter  recolher               distanciar afastar                confinar  cercar
varanda
isolamento horizontal  vs  isolamento vertical
quarentena  14 dias
etiqueta respiratória
estamos todos no mesmo barco    vai ficar tudo bem (brrrnhac!)
   
grupo de risco
velhos
lares
velhos  lares  lares  velhos  velhos  lares  lares  velhos
e assim sucessivamente

a (doença) covid-19
febre   tosse   cefaleia   fraqueza   dificuldade respiratória
sintomático  assintomático
comorbilidade
taxa de letalidade  vs  taxa de mortalidade
hidroxicloroquina   ibuprofeno   paracetamol
hospital de campanha 
quartos  pressão negativa
camas  ventiladores
cuidados intensivos  pneumonia
curados   mortos   caixões   funerais

Wuhan   Itália  Espanha   Equador   Ovar   República Checa  Nova Iorque
Holanda  repugnante  Costa
Trump   Bolsonaro  Boris

presidente-arlequim
emergência
[papelarias   tabacarias   raspadinhas
drogarias   padarias   farmácias
oculistas
concelho]

streaming   skype   zoom   houseparty
parabéns a você  (brrrnhac!)
808242424
profissionais de saúde
laboratório

3.ª vaga
guerra   novo normal   atípico
medo  miséria  fome  dor  desespero
apocalipse
ploc

Aleluia!

3.ª Descontaminação das ruas de Bobadela, pelo Crucificado. **

ÚLTIMA  HORA
Domingo, 12.Abr.2020, 17h15 - 4.ª Descontaminação das ruas de Bobadela, pelo Ressuscitado com ajuda do senhor padre Marcos. **  
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* Vitório Rei também rimava assim. Lembram-se?

**  1.ª   e   2.ª

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Oleiros, sexta-feira, 03 de Abril de 2020

Não tenho noção precisa do que seja desejar, na parte do muitos, «muitos anos de vida» a quem faz 100.
Mas sei de ciência certa que os bombeiros de Oleiros [olha se houver oleiros em Oleiros...] levam a peito o dodecafonismo serial de Arnold Schönberg e dominam com arreganho a variação de ritmo, compasso e andamento.
Do "Parabéns a você" disse o que havia para dizer aqui e aqui.
Hoje, em Oleiros, a coisa arrancou num veemente Dó maior; chegou às «nossas almas» num Mi bemol em excesso de velocidade, culminando na triunfal «salva de palmas» com um microdeslize tonal de três comas, dois perto do Mi, um a roçar o Ré sustenido num prodigioso efeito de enarmonia.

Clara Ferreira Alves, petulante; Pedro Mexia, não.

«[...] A sida, a crise de saúde mais grave que a minha geração conheceu, e que decretou a morte dolorosa e a violência do estigma das primeiras gerações de infectados, acabou por ser controlada, mas a vacina não chegou. Apenas a transformação da doença como metáfora, nas palavras de Susan Sontag, em doença crónica. A colaboração planetária foi essencial. [...]»

Que sentido faz no contexto o título da nova-iorquina? Nenhum.
Ficasse-se a plumitiva pela «transformação da sida em doença crónica», e bastaria. Mas CFA não desperdiça nenhuma oportunidade, ainda que desconchavada, de relembrar aos leitores que é a pessoa mais letrada do universo. 
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«[...] Lembrei-me por isso de “A Doença como Metáfora” (1978), um breve ensaio de Susan Sontag que nunca me pareceu tão útil, porque perdi a conta aos artigos de jornal que usam o coronavírus como metáfora do capitalismo, do ateísmo, do consumismo, da “natureza zangada connosco”. É que se uma rosa é uma rosa é uma rosa, então um vírus é um vírus é um vírus. Sontag, que enfrentava à época um cancro, embora nunca mencione a sua condição, escreveu “A Doença como Metáfora” para atacar esse uso da doença como metáfora disto e daquilo. O seu estudo é cultural, linguístico e clínico (na óptica do paciente). Do ponto de vista cultural, trata-se de um pequeno historial das metáforas associadas a duas doenças, a tuberculose e o cancro, sobretudo na literatura euro-americana; em termos linguísticos, é uma crítica ao uso de terminologia médica fora do campo da medicina, em especial no combate político; de uma perspectiva oncológica, é um apelo a que se encare a doença como questão científica e terapêutica, não como alegoria ou moralidade. [...]»

É por isto, certo de que não combinaram falar da metáfora de Susan Sontag na mesma edição do Expresso, que confio em Pedro Mexia, que leu o livro, e desconfio de que a e portanto dito isto devo dizer etc. Clara Ferreira Alves do livro só sabe ou só se lembra do título com que se vem pavonear.