sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"1Q84"

«Depois temos os longos interlúdios em que nada acontece, também muito devagar, deixando bastante tempo livre para as personagens se dedicarem a actividades tipicamente murakamianas: abrir e fechar frigoríficos, preparar refeições caseiras à base de esparguete, beber whisky, ouvir jazz, falar de gatos, manter longas conversas telefónicas, comparar tamanhos de seios, reflectir sobre orelhas, e ter sexo absolutamente ridículo (a dada altura, uma vagina é comparada a uma orelha "atenta ao som de uma campainha distante"; no mesmo capítulo, uma sequência de erecções é comparada a uma "remodelação governamental"). Outros elementos familiares também picam o ponto no romance: o mesmo exotismo transnacional e desenraizado, o mesmo "ennui" urbano pontuado por alusões culturais, os mesmos voos de introspecção supérflua - uma divagação excruciantemente banal sobre Tchékhov prolonga-se durante quatro páginas - capazes de murchar a remodelação governamental de qualquer um.
[…]
Os diálogos são um pesadelo de redundâncias sobrepostas. É rara a interacção em que uma personagem não repita o que a outra acabou de dizer, com ligeiras modificações. É rara a interacção em que uma personagem não repita, com ligeiras modificações, o que a outra acabou de dizer.»