sábado, 14 de janeiro de 2012

Era uma vez uma lâmpada

«Byron é uma lâmpada, criada entre milhares de irmãos num viveiro industrial conhecido como Paraíso das Lâmpadas Bebés. Como todas as outras, é dotado de consciência, mas também de algo mais.
[…]
Uma improvável sequência de acontecimentos ajuda Byron a escapar-se aos tentáculos da Phoebus, uma longa odisseia que o vê ser despejado numa retrete, percorrer o Elba até ao estuário, flutuar à deriva no Mar do Norte, ser recuperado e novamente perdido por um padre luterano, transportado até um comício nazi, resgatado por um órfão judeu.
[…]
De todas as formas literárias, a alegoria é uma das mais arriscadas, mas talvez a menos vulnerável à obsolescência. Na vida de Byron, Pynchon criou uma alegoria imperecível sobre um objecto inanimado que incorpora a experiência humana elementar, perpetuamente equilibrada entre impulsos transitórios e utopias de imortalidade: a resignada aceitação de que o conhecimento nem sempre expande o perímetro do possível, e de que o mais valioso nem sempre é comunicável.»
Rogério Casanova, “A vida de Byron”, sobre “Gravity’s Rainbow”, de Thomas Pynchon [1972] | Público/Ípsilon, 13.Jan.2012