«“Roma não paga a traidores”, dizia, inocentemente António Guterres, a propósito do PS. Mas Roma pagou a Manuel Maria Carrilho, que traiu Guterres com estrondo e dessa traição fez carreira política e oportunidade mediática, sabendo como a nossa imprensa adora traições e insídias. Sem aprender a lição, Sócrates deu-lhe de bandeja a eleição garantida para a Câmara de Lisboa, que ele conseguiu perder, por exclusiva culpa e vaidade própria. E, depois de muito suplicado, deu-lhe o melhor emprego do Estado – o de embaixador da UNESCO, em Paris. Para bem conhecer o personagem, vale a pena ler o que ele agora escreveu sobre Sócrates no “DN” da passada quinta-feira. Está lá tudo, toda a história da queda de Roma. Mas aqui fica o aviso: é leitura hardcore, não recomendável a espíritos impressionáveis. A mim, pelo menos, causou-me uma náusea irreprimível ver alguém morder a mão que lhe deu de comer.
Francamente, não entendo o espanto com as "infelizes" (é assim que se deve dizer) afirmações do sr. Presidente da República. Ao fim de trinta anos no topo da política, sufragado pelo país em não sei quantas eleições, ainda há quem não conheça Aníbal Cavaco Silva? Não houve ali sombra de insensibilidade, de falta de jeito, de infelicidade, como tantos disseram. Foi, tão-somente, Cavaco igual a si próprio. Nunca, sinceramente, consegui perceber o respeito reverencial com que Cavaco Silva foi sempre tratado por tantos – e alguns bem melhores do que ele. Nunca consegui perceber o mito que se criou à volta de um homem a quem jamais vi um gesto de verdadeira grandeza. Pelo contrário, sempre senti, desde o primeiro dia, que ele se acha o centro do mundo, o epicentro de todas as virtudes, acima e além de todos os outros. Por isso, não o condenem pelo deslize: condenem-no pela sinceridade. Os que não votaram nele.»