quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Admiro muito o António Guerreiro

A ideologia e a maquinação ignorante do José Manuel Fernandes [Público]
«a mudança de campo ideológico acompanha, tantas vezes, a perseverança no modo de pensar: alteram-se os ideologemas, mas permance a ideologia. Como operação que prossegue a totalidade ideológica, demos um exemplo culto – na sua crónica no Público de 22/7, escreveu José Manuel Fernandes […]»

A indignação
«quando a indignação entra num espaço tradicionalmente reservado à política, é porque esta foi substituída pela moral. A isto se chama despolitização, e nenhum bem pode daí advir.»

A marcha da civilização
«Seja como for, suspeitar da cultura e manter algumas reservas em relação às promessas progressistas da civilização deveria ser uma questão de método e de exigência crítica.»

Não posso estar mais de acordo com o António Guerreiro. Como se a pré-história não tivesse sido já vanguarda, como se o nosso tempo não devesse ser ainda e apenas o esboço prudente do primeiro passo, e tudo isto, que nos empurra e entretém, não pudesse configurar um alucinante, imenso e levedado erro crescente.

Francisco José Viegas, secretário de Estado da Cultura
«A sua vocação de agente cultural é um percurso de santidade: é uma capacidade pacificadora que consiste não apenas em conviver com tudo*, mas em fazer com que tudo conviva com tudo.»

* Mas é que é mesmo com tudo, incluindo com esse inefável abencerragem da finíssima aristocracia cultural que dá pelo nome de Aníbal António Cavaco Silva que o FJV ajudou empenhadamente a eleger e a reeleger, não fazendo a coisa por menos do que integrar as “comissões de honra” da candidatura de 2005 e da recandidatura de 2010.
Sem reservas nem ironia, para falar como o António Guerreiro, o bom do Francisco José Viegas merece o céu. Santo já ele é.

Aníbal Cavaco Silva
«Vendo o país como um organismo vivo, Cavaco Silva vai ao encontro do pensamento mais reaccionário do século XX (não apenas representado por Spengler). Faz mais do que isso: imagina-se como um pastor cheio de solicitude e preocupação pelo seu rebanho, vê o exercício da presidência como uma pastorícia e os seus discursos como pastorais. Ele quer a saúde e a salvação do rebanho, quer que a criação do parque aceite voluntariamente tratar-se. A isto poderia chamar-se biopolítica em estado bucólico. Mas talvez lhe possamos chamar a “síndrome de Mr. Chance”, em homenagem à personagem do filme de Hal Ashby, que chegou a Presidente dos Estados Unidos por fazer metáforas que ninguém entendia.»

Muito obrigado, André Dias.

Discurso de despedida do engenheiro José Sócrates
«É coisa para obscurantistas esta ideia de que pessoas e acontecimentos ditos “históricos” serão submetidos a um juízo neutro, omnisciente e irrevogável por uma instância tribunalícia chamada História.»

Trabalho
«Como o homeostato de Ashby, essa máquina que funciona apenas para se alimentar a si própria, assim é o sistema paradoxal de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho, de uma multidão de supranumerários que representa um perigo enorme: o de sabotar a máquina, deslumbrada com o seu próprio mecanismo.
Na mobilização geral pelo trabalho, reforça-se uma evidência que seria, pelo contrário, necessário abolir: a de que não há outra maneira de existir senão trabalhando.»