«Nos tempos que correm, a fama, e sobretudo a fama misturada com uma vaga vocação artística, confere aos excessos uma aura romântica, quase uma razão. Ao que se lê por aí, ser alcoólica e drogada não era apenas uma característica secundária, e ligeiramente deplorável, da sra. Winehouse: era um elemento essencial à respectiva persona e ao respectivo culto. Os que lamentam o seu infortúnio são os que se deixam seduzir por ele, gente que não dedicaria à sra. Winehouse 1% da atenção que lhe dedicou caso esta tivesse levado a vida abstémia de, por exemplo, Celine Dion. Não falo do mérito: a voz da sra. Dion provoca-me uma sensação idêntica à das queimaduras de segundo grau. Do pouco que entretanto vasculhei no YouTube, também não diria que a sra. Winehouse se confundiria com Ella Fitzgerald. Aliás, Fitzgerald, cantora superior a Billie Holiday, exerceu um fascínio comparativamente nulo. Porquê? Porque se manteve sóbria e morreu velha. O fascínio pela destruição auto-infligida no mundo pop não é de hoje.»