sexta-feira, 8 de maio de 2015

A geração de Helena Matos e João Carlos Espada

«Reconhecemo-los à distância, mal aparecem no pequeno ecrã a comentar, nos jornais como escritores subalternos e nos postos oficiais onde o culto do arrivismo passa por razão de Estado: são os eternos ex-, os renegados da extrema-esquerda que renunciaram à utopia, os arrependidos de ideias, agora tão realistas por princípio que o seu realismo é uma nova ideologia, tão autoritária como a anterior. Eles constituem uma categoria, uma classe intelectual.
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Eles, sim, constituem uma “geração”, palavra horrível para designar um coágulo de ideias colectivas, de gestos gregários e de camaradagens.
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Tendo feito acentuadas viragens à direita, eles não se confundem no entanto com a velha direita: acumulam o que há de pior de um lado e de outro. Podem ter renegado tudo, podem ter feito um enorme esforço de reciclagem, podem estar treinados para triunfar no novo ambiente, mas há uma coisa de que não se libertam: as suas estruturas mentais e os seus métodos. Por isso é que são eternos ex-.
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A personalidade destes ex-esquerdistas convertidos com devoção à nova ordem (não apenas política, também social, familiar e moral) é também uma estética e confirma-se num gosto por todos os valores seguros: pelo neo-classicismo kitsch; pelos escritores que “escrevem bem”; pelos cineastas que sabem contar histórias; pelos artistas que exibem o savoir-faire da tradição.»