A
jornalista e portanto dito isto não tenho a menor dúvida Clara Ferreira Alves entrevistou em Saint-Germain-des-Prés o
escritor Michel Houellebecq — "Não duvido de que sou detestado" | Expresso/E, 23.Mai.2015.
Li. Senti qualquer coisa anormal.
Reli.
Contei:
título
e lide, 45 palavras;
apresentação do entrevistado aos leitores, 1015 palavras; apresentação
excelente, diga-se;
quanto à entrevista propriamente dita, CFA interpela MH por 17 vezes, usando
2140 palavras;
MH dá
as 17 respostas em 1885 palavras.
Ou seja, a jornalista gastou 53.15 % das 4025 palavras da conversa; o escritor proferiu apenas 46.85 % dela.
Contas
feitas, não espanta que as afirmações que se seguem não pertençam, ao contrário
do que seria de esperar, a falas do entrevistado, mas, paradoxalmente, às perguntas que a entrevistadora lhe fez:
- «Muitos grandes escritores temem a perda de faculdades, o momento em que começam
a escrever mal.»
- «Bonnard ia corrigir o amarelo nos quadros que já estavam expostos.»
- «A
atenção extrema é uma qualidade dos infelizes e dos solitários. Quando se está
muito entretido não se vê nada em volta.»
- «Vivemos num mundo mediático, mediatizado, que é um jogo de espelhos de ideias
feitas.»
- «Os
autores são atraídos por grandes ideias, não pela construção de sistemas
burocráticos, saber como funciona a educação ou a polícia…»
- «A
forma exalta o conteúdo execrável. "Lolita", de Nabokov, é um livro
escrito assim. Perigoso. À beira do abismo.»
- «É o
que faz o Estado Islâmico, deixa as cabeças das vítimas decapitadas sobre os
corpos, graficamente, como prova. A cabeça dos reféns torna-se simbólica.
Excepto quando estão em mau estado.»
- «Os
escritores, os grandes escritores, são muito amados. E por isso tudo lhes é
perdoado. Têm um ego brutal, idolatria, groupies
como as estrelas rock. Não se podem queixar.»
- «Os grandes escritores são detestados no seu
país. Os Nobel, sobretudo. Saramago era detestado em Portugal. Coetze saiu da
África do Sul. Martin Amis saiu da Inglaterra. Ser detestado é melhor do que
ser unanimemente celebrado. Só os medíocres amáveis são amados por todos.»
- «É
fácil ser-se humanista mas não é fácil amar as pessoas.»
- «A
beleza é um dom raro. A maioria das pessoas não é bela.»
Ena,
doutora Clara!
A
menos que estivesse muito distraído, não dei por que Michel Houellebecq tenha
perguntado fosse o que fosse à jornalista, discordando, porém, quanto à maioria das pessoas não ser bela.
Ainda
assim, e portanto dito isto não tenho a menor dúvida de que o magnífico escritor
francês há-de ter aprendido imenso, e nós por arrasto, com a ida a Paris da plumitiva
lusitana, «marca/estrela que muito valoriza a
constelação jornalística do Grupo Impresa», que é como o seu patrão, Francisco
Pinto Balsemão, fala de CFA em "O futuro do jornalismo e o
jornalismo do futuro", no Expresso/Revista de 04.Jan.2014.
Etc.