segunda-feira, 4 de maio de 2015

Amo a TAP

Só não acompanho Nuno Saraiva — "Isto não é sindicalismo, é terrorismo", DN, 03.Mai.2015 — quando diz: «a única coisa que o sindicato dos pilotos conseguiu foi isolar-se e colocar toda a gente, um país inteiro, a condenar esta greve, fazendo coro com todos aqueles que acham, por convicção e princípio ideológico, que nenhuma greve é legítima.»
Nem toda a gente. Por exemplo, o Partido Comunista Português, a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional e a Comissão de Trabalhadores da TAP, secular monólito comunistóide que, a par do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos, assobia na Portela conforme se sopra na Soeiro Pereira Gomes, não só não condenam a greve como disfarçam mal a salivação de regozijo ante a desgraça iminente. Nisso, os comunistas variam pouco: quanto pior, melhor; o infortúnio é a sua levedura e a sua pulsão, lidam mal com a felicidade, o bem-estar parece tirar-lhes tesão. De resto, malta simpática, honesta, ordeira e trabalhadora. Mas não é fácil contrariar o que corre no sangue [se o ADN não estivesse tão metafórica e ridiculamente gasto, era mesmo ADN que eu diria].

Atente-se em como pelas 23:30 de sexta-feira passada, na RTP Informação, o coordenador da Comissão de Trabalhadores [CT] da TAP falava:
- Sobre a greve, como devem saber, já é histórico que a Comissão de Trabalhadores não toma partido em relação a nenhuma greve na TAP, por uma questão de respeito para com os signatários dessas greves.
Depois de proferida — como é que se diz em politiquês? — esta inverdade do tamanho dos Himalaias [sei do que falo] com descaramento não menor, riposta Sandra Felgueiras:
- Mas seguramente que neste momento que a empresa atravessa, um momento em que tivemos todos os representantes máximos do país a alertar para as consequências, do Presidente da República ao Primeiro-Ministro, passando por todos os ministros, Paulo Portas, Pires de Lima, até o próprio presidente da TAP, alertando para que o que pode estar aqui em causa é uma vaga de despedimentos ímpar da qual a TAP poderá não conseguir sequer reerguer-se, eu acredito que a Comissão de Trabalhadores, em relação a isto e a estes avisos lançados pela tutela, tenha algo a dizer…
Coordenador da CT:
Sim, claro que tem algo a dizer.
E desatou em deambulações conjunturais e históricas, decerto pertinentes, decerto respeitáveis, mas sem emitir o mínimo reparo, a menor preocupação com a inaudita e celerada aventura a que o SPAC dera início nesse 1 de Maio.
[…]
Sandra Felgueiras:
- E o pior negócio, por aquilo que vejo na sua lapela, é mesmo a privatização... Coordenador da CT:
- É precisamente a parte que nos preocupa.
Sandra Felgueiras:
- Não vos preocupa que uma greve com um potencial de gerar 70 milhões de prejuízos numa empresa que hoje não vale mais de 100 vos possa mandar para a rua?
Sem esboçar ou admitir um pixel de receio pelo futuro, o impávido homem da CT empreendeu por nova digressão histórico-política, decerto razoável, decerto atendível.
Como de costume, até à vitória final. Em gloriosa e irremediável asfixia.

Coisa em que os comunistas soem ser magníficos é na arrumação da mobília.