«Nas semanas que se seguiram à eleição de Obama, muitos adeptos de "The West Wing" ("Os Homens do Presidente" na versão portuguesa) notaram as semelhanças entre a campanha eleitoral de 2008 e a última temporada da série: um não-caucasiano com nome invulgar supera todas as expectativas e vence as primárias democratas contra um óbvio favorito, disputando depois a Presidência com um republicano atípico, de apelo centrista e reputação de "maverick", mas incapaz de consolidar a base religiosa do partido.
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Órfão dos seus mártires caídos (Martin Luther King e, sobretudo, os dois Kennedy assassinados), o liberalismo tende a sublimar as suas aspirações colectivas, convertendo-as num culto messiânico, perpetuamente à procura do próximo candidato a redentor. "Os Homens do Presidente" parte da premissa de que o que une todos aqueles intelectos colossais e instintos políticos de primeira classe é um conjunto de princípios partilhados e um sentido de dever cívico, mas o que acaba por ilustrar é a devoção cega a um monarca benevolente; não alguém que é dignificado pelo cargo que ocupa, mas alguém cujos carisma e autoridade moral exigem ser tratados como infalibilidade.
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Se pretendermos voltar a ler a série como profecia, devemos ignorar a falência hiperbólica dos últimos anos e regressar à quarta e última temporada de Sorkin: um líder carismático, cuja retórica inspiradora criou expectativas impossíveis de cumprir, termina um frustrante primeiro mandato, no qual viu repetidamente as suas melhores iniciativas serem diluídas por cedências e compromissos, até ao ponto em que até as pequenas vitórias têm um sabor amargo, mas que recupera alguma da sua popularidade e acaba por garantir a reeleição, em grande parte porque os seus adversários políticos não conseguiram produzir um candidato capaz de articular duas frases seguidas sem revelar a sua mediocridade. É provável que, daqui a alguns meses, tudo isto pareça novamente uma história familiar.»