sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Alberto Gonçalves | Rúben de Carvalho

«existe por aí uma notável quantidade de criaturas que não acredita só nas capacidades retóricas dos cadáveres: acredita que o destino de cada um de nós se encontra condicionado pela data de nascimento, a distribuição dos planetas ou o boneco extraído de um baralho de cartas. Resta apurar se uma inclinação colectiva para engolir patranhas é consequência da penúria ou explica a penúria.»
- “Fantasmas de sábado à noite”

«Em geral, os indignados protestaram a subserviência do dr. Gaspar ao sr. Schäuble. Alguns protestaram com particular detalhe: o deputado comunista Rúben de Carvalho* e pelo menos mais um comentador lamentaram a postura física do português, inclinado perante um alemão que nem sequer teve a decência de se levantar. Dado que após uma tentativa de assassínio em 1990, o alemão em causa ficou paraplégico e anda de cadeira de rodas, os críticos exigem que o dr. Gaspar realize milagres triviais e cure aleijados.»
- “O dr. Gaspar não faz milagres”
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* Rúben Luís Tristão de Carvalho e Silva, em 10.Fev.2012 na SIC Notícias, numa inteiramente inadequada e decerto das mais infelizes intervenções públicas da sua vida:
«Há duas ópticas, a meu ver, em relação àquilo que aconteceu …  A [óptica] que é proporcionada pelas imagens faz-me vergonha e deprime-me profundamente. Acho inqualificável, quer dizer, aquela imagem, enfim, se servilismo é uma palavra excessivamente violenta - não é? -, eu não hesito em utilizar uma palavra igualmente violenta: arrogância, em relação ao outro interlocutor que fala com o seu par em termos de hierarquia governamental, dentro da União, sentado na cadeira sem ter a gentileza de … Inclusivamente volta-se de costas, uma coisa verdadeiramente lamentável, digamos, o que ainda torna mais chocante – não é? – o agradecimento do senhor Ministro da Finanças. Há, aliás, um comentário que eu li hoje num jornal que eu acho que é de uma grande crueldade mas é inteiramente adequado, que é um comentário do coiso [sic] que diz “Verificaram se ele estava assente num joelho ou em dois?” – não é? – porque de facto [Risada abundante de RC] a imagem que aparece…»
Todavia, o que Rúben de Carvalho disse no «seu minuto inicial», acerca do Acordo Ortográfico, parece-me da maior acuidade e pertinência.

PS
Tendo a achar mais inaceitável que o Alberto Gonçalves desconheça que o Rúben de Carvalho não é deputado [foi-o na VII Legislatura, de 1995 a 1999] do que o desconhecimento, por parte do RC, do problema de locomoção do governante teutónico. De resto e pelo que se infere das reacções e apartes dos parceiros de conversa, nem  o Mário Crespo nem o Nuno Magalhães sabiam do ministro entrevado.

Em tempo
Informam-me de que, no Jornal das 9 seguinte - segunda-feira, 13 -, o Mário Crespo pediu desculpa em seu nome e no de Rúben de Carvalho. Fez bem.